Somos todos um Henry Jekyll. Ou seria um Edward Hyde? O romance de Robert Louis Stevenson, intitulado "O médico e o monstro" publicado em 1886, conta a história de uma pessoa que, em determinada fase da vida, questiona-se sobre sua identidade, sobre valores e virtudes, sobre uma vida teatralmente vivida no meio social. De um lado temos uma pessoa que pelo o que se tornou e pelo o que tinha, deveria sentir orgulho de si mesma, vangloriar-se por seus bens e por sua posição social de prestígio. Deveria ser feliz. Não? De um outro, temos uma coisa estranha que causa medo nas pessoas "civis" e que não possui identidade, apenas um nome, mas poucos conseguiriam defini-lo, decifrá-lo. Talvez só uma pessoa conseguiria entender essa coisa estranha, defini-la, decifrá-la; essa pessoa seria a mesma. De um lado temos uma pessoa "normal e civil", fez tudo como manda o figurino, estudou, tornou-se médica, possuía conhecimento e muito dinheiro, deveria não desejar outra vida, não é mesmo? Mas desejou. Algo no fundo não se encaixava. Era pra estar feliz, mas não estava. O que tinha de errado com ela? O que há de errado com você? De um outro lado, temos uma pessoa má, liberta de qualquer culpa por não se importar, uma pessoa com um ego muito elevado ao ponto de ferir e sentir prazer ao ser um monstro. Bem e Mal... dois lados de uma mesma moeda. Dois lados de uma só pessoa? Sim. Por que não? Há uma tendência muito forte de não olhar para dentro, apenas para fora. Considerar o externo, mas não o interno. Por isso exteriorizamos "bem e mal", quando na verdade, deveríamos interiorizar. Não está fora, está dentro de nós. Somos o que somos. Criamos um sistema que neutralizasse o mal em nós, mas quem disse que não somos maus? Tentamos a todo custo ser civilizados, comportados, bonequinhos, mas no fundo, somos um Hyde! Ou melhor... Somos um Jekyll se questionando sobre os padrões de sua mera existência e se revoltando consigo mesmo por viver a vida de maneira teatral, fingindo, mentindo, sustentando aparências, usando máscaras! É fácil condenar o mal que há no outro, renegá-lo. Mas renegue a si mesmo. Condene a si mesmo. O mal que há no outro, também há em você. Seu moralismo farsante só engana os mentirosos assim como você. Todos somos hipócritas. Por mais que tentemos ser bons, o mau em nós ainda existe. Não teria como destruí-lo. Ou melhor... até teria. Mas teria que destruir a si mesmo. Somos bons e maus. Antes de tudo, somos animais, temos nossos impulsos, nosso instinto, nossa intuição, temos nossos monstros... Mas aqui deixo bem claro, não é para sermos maus. Entretanto, termos consciência do mal que há em nós é fundamental. Nós criamos mecanismos para barrar o animal selvagem que há em nós, mas às vezes ele escapa, encontra uma brecha (você deixa a porta entreaberta) e sai para dar uma volta. Hyde causou estragos. Nós feito cães adestrados olhamos para um cão feroz e o consideramos diferente de nós, mas no fim são todos cães, são todos animais. Somos bons até certo ponto e maus até certo ponto também. O ideal é não perder o controle sobre seu lado mal, não se dar corda, senão você mesmo se enforca, se perde. A violência praticada todos os dias em algum lugar do mundo, a maldade, as GUERRAS, mostra os monstros que há entre nós (ou seria em nós?) e nos faz questionar sobre quem somos: mais Jekyll ou mais Hyde?
Por Ruan Vieira
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