Parece que estamos sujeitos aos jogos e trapaças que nos levam, geralmente, à traição, porque no fundo estamos envolvidos em um grande e eterno jogo de interesses. Nós nos acostumamos à ideia de que a vida é um jogo, que tudo envolve competição e que estamos lutando uns com os outros para agarrar as oportunidades e fazer valer os nossos anseios e objetivos. O filme "Trair é uma arte", uma adaptação do livro "Boogie Woogie" de Danny Moynihan, dirigido por Ducan Wars, é uma sátira que escancara a verdadeira face de todos nós por trás das personagens que inventamos para atuar no teatro da vida. Estamos sujeitos à traição, porque no fundo, trazemos conosco em nossa natureza animal, a autopreservação e o instinto de sobrevivência. Se numa dada situação nos sentirmos ameaçados, iremos instintivamente ficar sob alerta e procuraremos maneiras de nos proteger e até dar um contra golpe. É questionável se no mundo nós realmente temos amigos ou se confiamos uns nos outros.
Na sátira adaptada para o cinema vemos seres humanos traiçoeiros que não perdem uma chance de passar por cima de quem está até mesmo ao seu lado para alcançar um interesse próprio. Quantas vezes alguém não já passou a perna em outro alguém, nessa vida? A personagem Elaine (Jaime Winstone) que se aproveitou do seu amigo ingênuo Dewey (Alan Cumming) enquanto cultivava em si o seu próprio interesse é um exemplo e tanto de como pessoas usam pessoas para chegar a algum lugar quando veem que não conseguem sozinhas. Outros personagens como Art Spindle (Danny Huston), Bob Maclestone (Stellan Skarsgard) e Beth Freemantle (Heather Graham) também estão por aí, um querendo derrubar o outro, tirar vantagem e competir. Tudo em volta de poder, dinheiro e fama. As traições não ocorrem só quando o assunto é conjugal, não estão dentro de quatro paredes, pelo contrário, elas estão em toda parte, seja no ambiente de trabalho, nos relacionamentos de amizade ou sexuais, nas relações entre familiares, nas esquinas dessa sociedade animal. O longa mostra um ciclo de traição que parece não ter fim, nós vemos isso na relação de Bob Maclestone, Jean Maclestone (Gilian Anderson) e Beth Freemantle; na relação de Beth Freemantle, Bob e Jo Richards (Jack Huston); na relação de Jo Richards, Beth Freemantle e Jean Maclestone; na relação entre Elaine e Dewey; no ambiente de trabalho envolvendo Art Spindle, Beth Freemantle e Bob Maclestone; na casa do velho Mr. Alfred (Christopher Lee), onde se vê uma relação de traição entre sua esposa Mrs. Alfreda e o mordomo Robert Freign etc.
O título do filme já nos traz uma ironia que nos leva a uma reflexão: "trair não é uma arte, mas nos parece uma arte e, se envolve dinheiro, a situação fica bem mais artística”. Uma outra reflexão que tirei desse filme, ainda sobre poder, foi a partir das palavras do velho Mr. Alfred, detentor de uma obra de arte caríssima, que perante a ganância de pessoas medíocres, destacou sabiamente que o interesse delas não era pela arte em si (por amor à arte), mas sim pelo dinheiro, havia um interesse no valor comercial da obra, era tudo por mero poder. De fato, isso fica bem evidente no decorrer da história. O dinheiro não corrompe o homem, apenas revela quem ele realmente é. Dê poder ao homem e verá a sua verdadeira face etc. Você confia em si mesmo? Confia nos seus semelhantes? Já se traiu? Já traiu alguém? Se acredita que as pessoas merecem confiança, você pode ser traído(a) algum dia; mas se acredita que as pessoas não são confiáveis (incluindo a si mesmo), você pode ser um traidor(a).
Por Ruan Vieira
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